O ATENTADO DOENTIO EM SUZANO E O PAPEL DA IMPRENSA

Captura de tela divulgada no Twitter após divulgação do atentado

Um adolescente de 17 anos e um homem de 25, encapuzados, mataram oito pessoas na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP), por volta das 9h30 desta quarta-feira (2019-03-13), e cometeram suicídio em seguida. Os assassinos eram ex-alunos da escola. E os mortos foram duas funcionárias da escola, cinco alunos do sexo masculino e o tio do assassino mais novo, morto antes da entrada dos matadores na escola.


Pronto, aconteceu de novo. Dois doentes mentais matam alunos e funcionários de uma escola e depois tiram a própria vida. Todos os sites de notícia estão dando a matéria. Os canais de TV jornalísticos nos massacrarão com uma torrente de detalhes sórdidos, imagens fortes e depoimentos sofridos. Amanhã os jornais impressos e, mais adiante, as revistas repisarão o assunto com mais detalhes.

E nos dias que se seguirão, decobriremos a motivação dos criminosos, seus traumas do passado, suas relações com parentes, amigos e desafetos, e suas histórias de vida, compondo um quadro cada vez mais nítido das personalidades anômalas que tiveram a nefasta capacidade de perpetrar atos tão vis.

É o jornalismo cumprindo sua missão. Fazemos aqui o mesmo que os grandes veículos de mídia fazem lá no exterior. Cobertura detalhada e completíssima dos fatos, não importando quão chocantes sejam eles.

E, como sempre, a cobertura vai dar mais ideia para outro(s) maluco(s) repetir(em) a façanha, gente com desajustes de caráter, vícios de comportamento, espíritos genuinamente maus ou desequilíbrios mentais graves. Sim, eles quererão também se tornar famosos por um momento, mesmo cometendo o grave crime de matar inocentes e desfechando o enredo com sua autodestruição, crime espiritual também gravíssimo.

Não dá para entender direito o que se passa na cabeça de celerados assim. Mas é inegável que a divulgação em massa dos fatos, muitas vezes em horários em que crianças e jovens — certo ou não — ainda estão na sala, planta sementes malignas demais nas mentalidades das pessoas. Gente normal só se enoja ou lamenta. Mas gente pirada pode secretamente se fascinar e ter ideias de emular a ação, e aí a equação do Mal já está formada.

Que fazer? Autocensura? Moderação na cobertura? Divulgar os detalhes apenas nos noticiários de tarde da noite? Abafar o caso? Ou escancarar os detalhes mesmo, pois o povo merece saber?

Sinceramente não sei. Só sei que esse câncer noticioso me faz mal. Muito mal. E se alastra. De maneira terrivel, incontrolável e potencialmente contagiosa. Isso tem tudo pra acabar mal.
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