"Fabricação no espaço poderia salvar a vida na Terra"

Palestra (com legendas em português) de James Orsulak no TEDxMileHigh 
Publicado em 3 de janeiro de 2018


Você se preocupa com o futuro do nosso planeta. Mas estamos perigosamente perto de colapsar nosso próprio ecossistema e estamos ficando sem tempo. Nesta palestra persuasiva, James Orsulak argumenta que a única maneira de realmente fazer a diferença é olhar para cima. James Orsulak atua como Diretor de Desenvolvimento de Negócios na Planetary Resources, uma empresa de mineração de asteróides que iniciou a primeira exploração espacial comercial do mundo. A empresa concentra-se em tecnologias como propulsão de foguetes, obtenção de água para funções de suporte à vida e de materiais de construção provenientes de asteróides. Anteriormente, James passou uma década desenvolvendo estações de abastecimento em escala industrial na Terra. Ele é um jardineiro ávido que mora em Denver com sua incrível esposa, gêmeos de 2 anos de idade e um cão indecente chamado Waffles. 

= = =

Eis o texto traduzido completo da palestra...

Todos os recursos que já usamos enquanto civilização vieram do mesmo lugar. Tudo. Toda a energia, os combustíveis, minerais, metais, materiais de construção. A água, o ar que estamos respirando agora. Todo recurso que em algum momento utilizamos veio do mesmo lugar: Terra.

Agora, isso na verdade demonstra um problema sério, pois, quando estudamos a história biológica, vemos rapidamente que em qualquer momento que exista uma espécie dominante em um ecossistema finito, consumindo uma quantidade limitada de recursos, isso significará o colapso dessa espécie. Agora, esse colapso normalmente começa com 50%. Quando uma espécie converteu 50% do seu meio ambiente, o ecossistema se torna instável, e ele muda. Não é mais adequado para aquela determinada espécie. 

Agora, aqui está a parte assustadora. 

Existem 7 bilhões de pessoas neste planeta. Nós somos a espécie dominante. E nós já convertemos 43% da massa terrestre disponível na Terra. Até o ano de 2050, existirão 9 bilhões de pessoas no nosso planeta e nós já vamos ter passado os 50%. 

Isso significa que a maioria das pessoas neste auditório verá o começo disso. Não sabemos exatamente o que vai acontecer, não sabemos exatamente qual será o impacto, mas no pior dos cenários, será o fim da raça humana. Porque a Terra não será mais adequada à vida humana. 

Agora, a razão deste problema existir vem de nossa própria natureza. Seres humanos consomem recursos. Eles alteram seus ambientes de forma que possam se reproduzir. É a própria definição de vida biológica. O problema é que estamos ficando sem espaço e sem recursos e agora estamos ficando sem tempo. Então precisamos de um plano. 

E se houvesse um jeito de tornarmos o nosso ecossistema maior? 

Se expandirmos nossa visão e olharmos para o espaço, vemos que todos os recursos valiosos que possuímos aqui na Terra: energia, combustíveis, metais, água... estão disponíveis em quantidades quase infinitas no nosso sistema solar. E se houver uma maneira de usarmos estes recursos para prevenir o colapso de nossa civilização? 

Eu sei, isso parece impossível. Parece ficção científica. Mas tenho um ponto de vista diferente do de vocês. 

Eu trabalho com algumas das pessoas mais inteligentes do mundo: engenheiros que conseguiram pousar robôs em outros planetas; e todo tipo de cientistas: de dados, aeroespaciais, planetários, peritos em inteligência artificial. Eu sou o diretor de parcerias estratégicas da maior companhia de mineração de asteroides do mundo, e acredito que possamos usar os recursos do espaço para salvar o nosso planeta. 

Nós já provamos várias vezes que sabemos como destruir um meio ambiente. Agora é a hora de provarmos que podemos salvá-lo. 

Do meu ponto de vista estratégico, vejo que existe mais poderio computacional na chave do nosso carro do que o que foi usado para enviar astronautas à Lua. Isso significa que podemos fazer coisas incríveis no espaço usando robôs baratos. Pela primeira vez, nós acumulamos o conjunto de ferramentas tecnológicas de que precisamos para despachar exploradores robóticos autônomos no sistema solar para achar e acessar estes recursos e colocá-los para trabalhar. 

Imaginem um futuro em que os recursos que precisamos não venham só deste planeta, um futuro em que tenhamos acesso aos vastos recursos do espaço e nós os usemos para melhorar a vida aqui na Terra. Esse é o futuro que vou lhes mostrar. 

Tudo começa com a água. Hoje, se quisermos água no espaço, temos que pegar esse recurso, colocá-lo em um foguete e lançá-lo no espaço. Isso é uma vergonha porque tem muita água no espaço. Tem água em asteroides, em cometas, nos polos da nossa Lua, e em outros planetas. A água está por toda a parte no espaço. E isso é uma coisa boa porque a água é um dos recursos mais críticos de que vamos precisar. Esse plano envolve muitos robôs, mas também muitas pessoas. Elas vão morar e trabalhar no espaço para que isso seja possível. E estas pessoas precisam de água para subsistência, para higiene, para produzir alimento. 

Mas a água no espaço é também um combustível. Se passarmos a água por um campo elétrico, podemos produzir hidrogênio líquido e oxigênio líquido. Isso é um propulsor de foguetes altamente eficiente. Então se extraímos a água do espaço e a transformamos em propulsor de foguete, podemos montar depósitos de combustível no sistema solar, postos de combustível! E quando o fizermos, pela primeira vez teremos acesso a uma nova base de recursos porque não estaremos tentando lançar todo o nosso combustível da Terra. 

E agora que temos acesso, podemos nos concentrar no próximo passo: construção. Os asteroides são também feitos de metais puros de alta qualidade: níquel, ferro, cobalto, platina. O que você vê na imagem é o primeiro objeto criado a partir de um asteroide. Foi impresso em 3D a partir de um meteorito. É muito pesado, é muito forte, não iríamos jamais querer lançar alguma coisa deste tipo daqui ao espaço. 

Mas se extrairmos metais do espaço e os usamos para alimentar robôs que fazem construções na órbita, o que por sinal, já é uma realidade, nós já temos isso, então podemos criar estruturas que não são limitadas pelo tamanho. 

Essa é a Estação Espacial Internacional. Esse é o objeto mais caro que os humanos já construíram. Custou US$ 100 bilhões. Por que foi tão caro? Bom, ela foi criada usando os recursos da Terra, que foram transformados em produtos, carregados em foguetes, lançados no espaço e então montados por humanos. Mas é como fazer o processo reverso. Não faz mais sentido. 

É praticamente o equivalente a viver na Europa e dizer: "Vou me mudar para os Estados Unidos e construir uma casa lá, mas vou enviar todos os materiais para construí-la do outro lado do oceano; toda a madeira, os metais, as tubulações, a parte elétrica, os chuveiros, vou mandar tudo pelo oceano", quando todos os recursos de que precisa já estão lá no seu destino. Não faz sentido. 

Podemos reduzir o custo e as ineficiências logísticas da construção de grandes moradias no espaço por um fator de 100 vezes simplesmente ao extrair aquilo de que precisamos do nosso destino. Então, podemos construir coisas no espaço! O que devemos construir? 

Bom, a energia é o maior direcionador de consumo de recursos no mundo. Nós mineramos por carvão. Perfuramos o solo para obter petróleo e gás natural. Mineramos por metais para construir parques eólicos, por silício para fazer painéis solares. Mineramos por níquel para fazer baterias e poder armazenar energia. 

Mas uma coisa continua igual. Conforme a população cresce, a demanda por energia aumenta, assim como o consumo de recursos. Nós sempre supusemos que a nossa produção de energia deveria acontecer aqui na Terra porque nunca houve uma alternativa, porque nunca construímos uma. 

Se usarmos os recursos do espaço, podemos lá criar fazendas de energia solar enormes, de quilômetros, instalações enormes que vão capturar a energia do Sol, que brilha no espaço 24 horas por dia, e transmiti-la até a Terra. A tecnologia para fazer isso já existe hoje, mas é simplesmente muito cara quando tentamos usar os recursos da Terra. Mas se usarmos os recursos do espaço, poderemos criar macrorredes do tamanho de planetas. 

Já ouviram falar de redes de eletricidade, talvez de microrredes? Pois bem, isso é o oposto. Isso é um sistema de geração de energia em escala planetária. É a energia de que precisamos e a energia está no espaço. Não são os recursos enterrados embaixo de nossos pés. 

Então nós temos água, combustível, capacidades de construção, energia, temos todos os serviços de que precisamos para construir cidades no espaço. Megaestruturas orbitais girando para produzir gravidade artificial de modo que sejam habitáveis por grandes populações. Estas estão surgindo hoje como estações espaciais comerciais. São laboratórios de pesquisa para astronautas independentes de todas as partes do mundo; hotéis para turistas aventureiros, certamente. 

Mas a função primária destas instalações será a de fabricação. Nós vamos construir coisas no espaço. A começar por satélites e naves espaciais. Por que iriamos construir satélites no espaço? 

Hoje, quando construímos um satélite, ele é limitado pelo foguete que o levará ao espaço. Ele tem de ser construído e projetado para caber naquele foguete. E tem de ser projetado para sobreviver ao lançamento violento do foguete até a atmosfera. 

Mas se removermos essa restrição, podemos construir coisas que são tão grandes quanto a nossa imaginação e amplamente mais capazes. E se chegamos até aqui, podemos dar o passo final e começar a resolver nossa crise de recursos. Podemos mover a nossa indústria manufatureira para o espaço, toda ela. A manufatura é o consumo de recursos. Usamos os recursos da Terra e os transformamos em produtos manufaturados para podermos vendê-los e fazer coisas úteis. Isso é o que impulsiona o comércio na Terra. 

Mas e se nós invertêssemos isso? E se juntássemos e coletássemos todas as nossas matérias-primas e recursos das profundezas do espaço e os importássemos para um anel de manufatura orbital ao redor do planeta, e então retornássemos somente os produtos acabados para a superfície? 

Vamos usar o seu smartphone como exemplo. Isso foi criado usando matérias-primas da Terra. Mesmo assim, cada uma das matérias-primas dentro dele existe em quantidades infinitas no espaço. O componente mais caro do seu celular é a platina, e ela está facilmente disponível em asteroides próximos à Terra passando por nós o tempo todo. Isso é criado aqui na Terra usando recursos terrestres, em uma fábrica que produz emissões e consome recursos. Eles usam produtos químicos tóxicos como o benzeno para produzir isso. E essa fábrica produz resíduos nocivos que são subprodutos da manufatura. Essas são as coisas ruins: venenos, toxinas, metais pesados, radiação. 

O problema é que todos os resíduos nocivos oriundos da manufatura ficam conosco aqui no ecossistema finito em que vivemos, envenenando o nosso ar, a nossa água, nossos peixes, nossa vida selvagem, nossos alimentos, nossas crianças! 

Sabem onde isso não deveria ser produzido? Pois é. Na Terra. Na única atmosfera respirável de que temos conhecimento, um recurso que nós subestimamos todos os minutos de cada dia. 

Então se fizermos isso, inverteremos a cadeia de suprimentos humana, empurraremos toda a nossa mineração e manufatura para fora da atmosfera. Depois disso, zonearemos a Terra só para acesso residencial. Imaginem se estivessem andando lá fora um dia e não existissem fábricas, usinas elétricas, refinarias, plataformas de petróleo, nenhum motivo para protesto, e em vez disso nós deixássemos o planeta retornar a um estado natural. 

Nós intencionalmente estabilizaríamos nosso meio ambiente. Teríamos mais espaço aqui na Terra, mais espaço para a população; não estaríamos tentando viver a partir de nossa base de recursos consumíveis. E sendo bem claro, isso não é uma visão de escassez. E sim, nós ainda temos que conservar todos os recursos preciosos que temos aqui em nossa casa. Mas essa é uma visão de abundância. É sobre ter acesso a todos os recursos de que precisamos para crescer como uma civilização. Eles estão simplesmente vindo de um lugar diferente. 

Eu sei que isso parece impossível, mas está acontecendo rápido, mais rápido do que poderíamos imaginar, e já começou. 

Meus filhos têm dois anos. Quando eles estiverem no ensino médio, verão minas de asteroides em operação. Eles vão crescer num mundo sabendo que os recursos de que precisamos não vêm somente deste planeta. Como pai, isso me dá bastante esperança. Quero criar um mundo para essas crianças que se torne cada vez melhor, não pior. 

E quando perguntarem a eles: "Por que devemos explorar o espaço quando temos tantos problemas aqui em casa?" Eles vão saber a resposta pra isso. 

Os recursos do espaço são as soluções para nossos maiores problemas. É somente pela exploração do espaço que nós protegemos esse mundo, aquele que é o mais importante. 

Isso é o que peço a vocês: acreditem que isso é possível, porque pela primeira vez na história humana, isso é possível. 

Quando acessarmos os recursos infinitos do espaço, nós assim o faremos para proteger e preservar o único ativo mais importante que conhecemos em todo o universo, o único lugar que conhecemos que pode permitir a vida humana: nossa casa, a Terra. 

Obrigado.

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Tradutor: Thales Fernandes de Castro  
Revisor: Maricene Crus 

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