O que pensar antes de publicar fotos da família nas redes sociais?


Se pensarmos bem, todos estamos curando e filtrando nossa história de vida quando publicamos fotos online no Instagram, Facebook, Twitter etc. E não tem nada demais, certo? Mas às vezes essa imagem envolve outras pessoas. Nossos amigos, nossos pais, nossos filhos. Pedir sua permissão para incluí-los em nossa história não é a norma cultural. Mas deveria ser?

Em julho de 2017, a equipe do podcast (em inglês) “Note to Self”, da National Public Radio, fez algumas perguntas sobre postar fotos. Veja aqui.

Você publica fotos de seus filhos? Os seus pais enviam suas fotos? Porque não?

Eles perguntaram sobre pais compartilhando fotos de seus filhos online. E perguntaram a crianças e jovens se seus pais postavam sobre eles. Queriam saber se as famílias estavam falando sobre suas escolhas nas mídias sociais e talvez criar uma espécie de um guia para essas conversas.

Eles achavam que talvez algumas poucas pessoas responderiam à pesquisa. Mas, sem querer, atingiram um nervo. Receberam mais de 1.200 respostas, sendo mais de metade delas longos depoimentos. As pessoas demonstraram ter sentimentos fortes sobre este assunto, emoções cheias de nuances e complexidades, o que não é bem uma grande surpresa.



Neste podcast (em inglês), o psicólogo e autor Guy Winch ajuda a compreender nossas diversas emoções a respeito de postagem de fotos nas redes. Ele recebe crianças e adultos, indivíduos e famílias em seu consultório privado e tem muito a dizer sobre o assunto.

— É preciso saber o momento certo de permitir que crianças ou jovens comecem a ter contato com a prática altamente, digo, altamente viciante de navegar nas redes sociais — disse Winch.

— Você usou a palavra viciante? — indagou a entrevistadora e produtora Manoush Zomorodi.

— Não. Eu disse altamente altamente viciante. Foram três palavras — respondeu Winch.

O podcast ouviu também Charlotte Philby, uma mãe cujos posts da família faziam parte de sua marca pessoal nas redes, até que, após conversar com os filhos, mudou radicalmente seu comportamento.

Então, aqui estão alguns dos depoimentos mais expansivos dentre os 1.200 obtidos. Experiências diretas de crianças e pais, todos sentindo a tensão da etiqueta de mídia social afetando profundamente suas almas.

A inescapável e desagradável foto do jovem dormindo largadão no sofá da sala, postada na página da mãe. Quase todo jovem atualmente já passou por isso.

"Eu não me importo tanto com as fotos da infância. Eu cresci, então essas imagens nostálgicas podem ser edificantes. No entanto, alguns anos atrás, depois de retornar de uma viagem ao exterior, minha mãe tirou uma foto de mim dormindo no sofá e postou no Facebook sem o meu conhecimento. Eu fiquei mortificada! Para mim, foi uma violação da privacidade e da minha marca pessoal. Os jovens adultos entendem que a nossa personalidade de mídia social é uma versão com curadoria e construída de nós mesmos, é a forma com que nos apresentamos para o mundo. Meu único arrependimento é que isso machucou os sentimentos da minha mãe quando eu pedi a ela para apagar as fotos da rede."

Ensinando um filho de seis anos sobre a coisa do "Curtir" no Facebook.

"Meus filhos têm 6 e 8 e eu estabeleci uma regra. Sempre perguntar a eles antes de eu publicar qualquer foto deles nas mídias sociais. Eles passaram de ser muito autoconscientes sobre as minhas postagens e agora estão lidando muito bem com isso, chegando até a me pedirem para publicar coisas. Recentemente, eles começaram a perguntar sobre quantas 'curtidas' as postagens receberam e eu estou constantemente lembrando-lhes que o número de 'curtidas' não importa".

A versão que os pais veem.

"Eu sinto que meus pais tendem a publicar imagens que mostram a versão de mim que eles preferem. Comecei recentemente saí do armário e me declarei gay. Já tive um namorado há quase três anos, mas duvido que meus pais postem uma foto dele e eu juntos. Em suas postagens também tendem a editar partes das informações que lhes falei, para contar uma história sobre mim que melhor se encaixa em sua narrativa."

Quando seus limites não são respeitados.

"Minha sogra rompeu nossa 'amizade' no Facebook porque vi que ela tinha publicado fotos das crianças e lhe pedi que as tirasse. Eu concordei que as escolas dos nossos filhos publicassem fotos de mídias sociais porque percebi que as crianças poderiam se sentir excluídas na ocasião se seus pais não tivessem dado permissão para publicação. Eu preferiria que meus filhos conseguissem fazer todas as atividades e não fossem tratados de forma diferente, então eu dei permissão, mas não gosto e nem marquei os rostos deles nas fotos."

"Eu faço isso porque eu amo você".

"Eu nunca consegui falar com meus pais sobre etiqueta online porque cada vez que eu tento trazer o problema eles me culpam dizendo 'eu faço isso porque eu amo você, você não entende'. E a conversa não avança mais. Minha irmã e eu já tentamos conversar com nossa mãe sobre como ela está ultrapassando os limites, dizendo que ela está vivendo a vida dela por meio de uma participação imaginária nas nossas experiências, mas antes que possamos chegar ao ponto, ela diz na lata: 'sim, exatamente, eu quero viver de forma indireta através de vocês!'"

Os posts dos nossos pais são mais verdadeiros com relação a quem somos do que os nossos próprios posts sobre nós mesmos, que passam por nossa própria curadoria.

"Meus pais não são capazes de representar uma versão real de mim. Eles são pais! A visão deles será sempre marcada por seu amor e pela crença de que seu filho é perfeito."

Você talvez não conheça a história completa.

"Eu sofri de um transtorno alimentar por quase 2 anos. Durante esse tempo, minha autoestima era realmente muito baixa. Meus pais publicariam fotos de mim e eu odiava isso muito, pois achava que eu parecia horrível o tempo todo. Eu percebi que eles não queriam piorar minha situação, mas senti que tinha que atender a essa imagem perfeita que eles queriam que eu tivesse."


* * *

É difícil ler alguns desses depoimentos. Mas a equipe do “Note for Self” percorreu os comentários para entender quão enormes essas perguntas são — sobre o quê publicar sobre sua família e como falar sobre essas decisões. E quão profundas as conseqüências podem ser quando não conversamos a respeito disso. Então perguntaram às crianças se tinham alguma sugestão.

"Eu realmente penso que se seu filho diz 'não publique isso' você simplesmente não deveria publicar. Mesmo se você não entender o motivo. Eu acho que os pais precisam entender isso ao usarem as mídias sociais, nós construimos a nossa vida em torno delas e há muitas máscaras e sutilezas na forma como usamos essas ferramentas, e isso são coisas que nossos pais nunca vão conseguir entender."

É importante fazer alguns questionamentos. Está tudo bem se eu postar isso? Com quem você está conectado? Quais são as suas configurações de privacidade? Qual é a boa etiqueta para cada plataforma? O que você está fazendo nas mídias sociais? O que você tira do uso de diferentes plataformas de redes sociais? Há coisas que você mudaria sobre as mídias sociais, se pudesse?

São perguntas que procedem.

Ouça o podcast.

[Medium, WNYCstudios]





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