Suicídio: Estatística pouco conhecida


Nos Estados Unidos, o suicídio é duas vezes mais comum que o homicídio — e mais frequentemente envolve armas de fogo —, mas a percepção pública é exatamente o oposto.

Notícias, filmes e programas de TV podem contribuir para a percepção de um alto risco de homicídio por arma de fogo, dizem os autores de um novo estudo, deixando uma lacuna substancial entre idéias e realidade e potencialmente levando a mais perigo.

Agora, a primeira pesquisa deste tipo, liderada pela Universidade de Washington, Northeastern University e Harvard University, investiga as percepções do público sobre a violência armada e as principais causas de morte nos EUA. O estudo, publicado na edição de Annals of Internal Medicine, procura fomentar discussões públicas nacionais sobre propriedade e armazenamento de armas de fogo.

“Esta pesquisa indica que, no âmbito da morte violenta, a maioria dos adultos dos EUA não sabe como as pessoas estão morrendo”, disse Erin Morgan, principal autora e aluna de doutorado do Departamento de Epidemiologia da Escola de Saúde Pública da UW. “Sabendo que a presença de arma de fogo aumenta o risco de suicídio, e que o suicídio usando arma de fogo é substancialmente mais comum do que o homicídio por arma de fogo, pode levar as pessoas a pensarem duas vezes se a posse de armas e suas práticas de armazenamento são realmente as opções mais seguras para elas e seus familiares”.

Para analisar as percepções do público nacional, os pesquisadores usaram dados da Pesquisa Nacional de Armas de Fogo de 2015, uma pesquisa na internet entrevistando aproximadamente 4.000 adultos nos EUA. Nessa pesquisa, os indivíduos foram solicitados a classificar as causas relativas de morte violenta em seu estado no último ano. Os dados foram então comparados com a contagem oficial de mortes de cada estado. Os resultados indicaram que, embora o suicídio seja mais comum que o homicídio em todos os 50 estados, a maioria dos entrevistados não o identificou como tal.

“As frequências relativas que os entrevistados reportaram não combinaram com os dados estaduais quando os comparamos com estatísticas vitais”, disse Morgan. “A inconsistência entre as verdadeiras causas e o que o público percebe serem causas frequentes de morte indica uma lacuna no conhecimento e um tópico em que educação adicional pode ser útil”.

Pesquisadores dizem que a educação sobre os riscos reais é crítica. Se as pessoas acreditam que o homicídio é o maior risco, por exemplo, elas podem optar por comprar uma arma para se proteger. E sem a compreensão do alto risco de suicídio, as pessoas podem estar menos inclinadas a guardar armas de fogo com segurança.

Para Morgan e seus colegas, essa educação sobre riscos de armas de fogo precisa se estender às indústrias de mídia e entretenimento.

“Ao fazer com que a mídia de massa e outros mecanismos de comunicação possibilitem novas discussões sobre o suicídio, nós, como sociedade, podemos ter uma conversa mais informada sobre a prevenção do suicídio”, disse Morgan.

Avançando, os pesquisadores estão interessados em aprender mais sobre como as pessoas formam suas percepções sobre a violência armada, a fim de começar a mudar essas crenças.

“Sabemos que isso é uma mistura de comunicação individual e de massa, mas o que realmente leva as pessoas a chegar às conclusões que elas tiram?”, disse Morgan.

“Se as pessoas pensam que a taxa de homicídios é realmente alta porque é isso que é mostrado nas notícias e em programas de TV fictícios, então essas são oportunidades para começar a retratar uma imagem mais realista do que está acontecendo”, concluiu.

Os autores colaboradores do estudo foram Ali Rowhani-Rahbar, Professor Bartley Dobb para o Estudo e Prevenção da Violência e professor associado da Escola de Saúde Pública da UW; Deborah Azrael, professora da Escola de Saúde Pública T. H. Chan, em Harvard; e Matthew Miller, professor da Faculdade Bouvé de Ciências da Saúde da Northeastern University.

A pesquisa foi financiada pela The Joyce Foundation e pelo Fund for a Safer Future.
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